A resposta do pavilhão irlandês ao tema da Bienal de Veneza 2014 resume a tumultuosa história da Irlanda nos últimos cem anos através de dez projetos de infraestrutura que destacam o progresso do país. A relação da Irlanda com o tema "Absorbing Modernity" foi marcada pela independência do país em relação ao Reino Unido no início dos anos de 1920, que via o modernismo e os projetos de infraestrutura como um meio de deixar o passado para trás. O pavilhão examina os resultados dessa estratégia que tratava o país como um campo de experimentações para tudo, de infraestruturas de concreto a centros de dados. Leia o texto da curadoria, a seguir.
Do catálogo Oficial da 14ª Exposição Internacional de Arquitetura: Se o modernismo é um resposta cultural à transformação tecnológica do mundo através de novos mercados e sistemas de infraestrutura, o modo como esse processo é absorvido nacionalmente pressupõe, geralmente, um apego a condições precedentes e um desejo de conciliar ambas. No contexto irlandês, devido ao processo de descolonização e independência política, essa relação foi problematizada e apresenta interpretações complexas.
Sem nenhum complexo industrial significante, a construção de novas infraestruturas na Irlanda ao longo do século XX foi vista como parte da construção de uma nova nação; da mesma forma, a adoção do modernismo internacional na arquitetura foi percebido como um meio de escapar do passado colonial. Consequentemente, a infraestrutura se tornou a identidade concreta de um desejo de reconciliar objetivos culturais e tecnológicos, e a arquitetura um elemento essencial na realização dessa meta.
A natureza da tecnologia e da infraestrutura é, por definição, cosmopolita. Começando com a usina hidroelétrica em Ardnacrusha (1929), construída pela empresa alemã Siemens-Schuckert na primeira década da independência, a Irlanda se tornou um ponto de encontro da experiência internacional e das necessidades locais. Do outro lado do espectro temporal, no ano 2000, o país se tornou um dos mais globalizados do mundo, sede europeia de multinacionais como a Google e a Microsoft. Climaticamente e economicamente vantajosa para o armazenamento e coleta de dados, a Irlanda se tornou um repositório de informação digital armazenada em agrandes galpões absorvidos em subúrbios anônimos. Em 2013 o país foi escolhido como local de desenvolvimento do novo microprocessador da Intel: o Galileo. A história das décadas entre a independência colonial e o estabelecimento de uma nação globalizada, décadas de mudanças que se manifestaram na arquitetura e nas infraestruturas, nas políticas de proteção econômica e nos planos quinquenais, fizeram da Irlanda uma plataforma de lançamento e terreno de testes para uma série de aspectos que moldaram a modernidade.
Infra-Éireann apresenta dez episódios infraestruturais através e uma série de mídias e escalas diversas. Oscilando entre exames detalhados dos objetos projetados e escalas estratégicas das redes e sistemas internacionais através dos quais o Estado opera, a exposição pontua momentos arquitetônicos importantes num fluxo tecnológico e cultual que inclui o genérico, a produção em massa e os objetos, edifícios e paisagens cotidianas.